sexta-feira, 30 de novembro de 2012

The Electric Flag


A segunda metade da década de 60 foi realmente excepcional para o Rock & Roll, pois aí se encontram suas melhores e mais influentes obras, que consolidaram o estilo mundo afora, caso de “Electric Ladyland” do Jimi Hendrix Experience, “Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band” The Beatles, “The Velvet Underground & Nico” do The Velvet Underground entre outras obras primas. Em um período de grande efervescência musical novas bandas surgiam e ótimos discos eram lançados quase que diariamente, entretanto o mercado musical ainda era pequeno e muitos desses grupos não alcançaram sucesso comercial e acabaram sendo relegados a um segundo escalão dentro da historia do Rock o que de forma alguma diminui sua importância.

Com o advento da internet muito desses grupos vem sendo redescobertos. Destes um dos mais originais e mais injustiçados era o Electric Flag grupo formado em 1967 pelo lendário Mike Bloomfield, um dos maiores gênios da guitarra que por este período já possuía colaborações com gente de peso como Bob Dylan (notadamente em “Highway 61 Revisited”) e que fez historia com um lendário combo do Blues Rock ianque The Butterfield Blues Band no legendário “East West” de 1966. Além de Bloomfield o grupo trazia Barry Goldberg no órgão, Nick Gravenites (voz e composições), Harvey Brooks no baixo e Buddy Miles na bateria. Miles, que na época era um ilustre desconhecido, tinha em seu currículo colaborações com um dos mestres da Soul Music Wilson Pickett, mas só ficaria famoso mesmo em 1970 ao trabalhar com Jimi Hendrix na memorável Band Of Gipsy’s ao lado do baixista Billy Cox.

Com uma proposta musical ousada o Electric Flag condensava em seu som elementos de Blues, R&B, Soul, Jazz e Country (estilos musicais populares típicos dos EUA) em uma roupagem psicodélica, daí o fato a banda se apresentar como “The Electric Flag: An American Music Band”. Para dar uma incrementada no som da banda Bloomfield cooptou o trompetista Marcus Doubleday e o saxofonista Peter Strazza que fechavam assim a formação clássica do grupo.

Tão logo começou a se apresentar sob a liderança do empresário Albert Grossmann, o Electric Flag se tornou uma sensação nos EUA, Tanto que foram convidados participar do Monterrey Pop Festival no dia 17 de junho de 1967. Ainda em 1967 Grossmann incluiu o grupo em um projeto cinematográfico intitulado “The Trip”, após a recusa do diretor em aceitar a International Submarine Band de Gram Parsons para a trilha sonora deste. Bloomfield então fica com a missão escrever as músicas e para a gravação do disco ele convida o tecladista Paul Beaver que pela primeira vez introduz um sintetizador Moog em um disco de Rock (haja visto aí pioneirismo do grupo).

O fato era que o primeiro disco não tinha vendido muita coisa e serviu mais como uma preparação para a obra prima da banda “A Long Time Comin´” de 1968 onde Bloomfield dava vazão, embora a canção “Flash, Bam, Pow” tenha participado da trilha sonora do filme “Easy Rider”.

Trazendo o que de melhor havia em Blues, R&B, Soul e Country temperado com altas dose de psicodelia “A Long Time Comin´” é um dos registros que merecem ser resgatados do reino das obscuridades sessentista. Para as gravações do álbum foram convidados um arsenal de músicos entre eles o sergipano Severino (Sivuca) Dias de Oliveira, músico renomado em todo planeta e que vivia em Nova York nessa época. Mais conhecido como sanfoneiro, Sivuca era um músico extremamente versátil e completo e no álbum contribuiu tocando guitarra.

A bolacha deixa o ouvinte lá nas alturas logo na abertura com uma versão chapante de “Killing Floor” de Howlin’ Wolf, que traz influências da Black Music ao som do blues tradicional, cortesia da viajante sessão de metais da canção e bateria destruidora de Miles, detentor de uma técnica singular e desde sempre apaixonado por Soul. “Groovin’ Is Easy” um soul entremeado de sobretons psicodélicos e com desconcertantes intervenções de guitarra mantém o nível do álbum. Enquanto a boa (mas não quanto a anterior) “Over-Lovin’ You” traz um atmosfera barroca ao R&B tradicional.


“She Should Have Just” tinha tudo para ser apenas um ótimo Soul, mas a guitarra genial de Bloomfield acaba desequilibrando a receita. Com um final apoteótico figura com certeza entre os pontos altos do disco. A já tradicional “Wine” com seu ousado solo de guitarra, destila o R&B em sua forma mais pura. “Texas” escrita por Bloomfield é o blues elétrico edificado por nomes de peso como Muddy Waters e Lee Hooker por excelência e mostra o quão bom guitarrista ele era.

Nesta altura o ouvinte certamente ficará impressionado com a beleza singular de “Sittin’ In Circles”, uma balada que traz influências marcantes do Free Jazz e da psicodelia em voga na época ao som do grupo. Entremeada com curtos, porém marcantes fraseados de guitarra no clímax do refrão temos uma das bem elaboradas e possivelmente a melhor canção do disco.

“You Don’t Realize” é um Soul legal, sem maiores destaques e que acaba passando meio despercebido. Pois a próxima faixa “Another Country” uma verdadeira orgia sonora chega com tudo. Maior composição do disco (quase 9 minutos) ela se inicia com um tema bem introspectivo carregado no R&B, até que é repentinamente interrompida por uma longa e viajante passagem de som que emula uma transmissão de rádio com excepcionais dissonâncias nos metais, a qual é seguida por dois ótimos solos de guitarra de Sivuca e Bloomfield; o primeiro traz um toque latino que cativa logo de cara, enquanto Bloomfield mais uma vez se mostra um bluesman de respeito até que a canção retoma o tema inicial e termina calmamente. Sensacional!!!

Bloomfield mostra classe na curta instrumental “Easy Rider” que encerra com chave de ouro o álbum.

O disco marcava o auge e também o fim de uma das mais criativas e interessante banda dos anos 60, pois internamente o grupo vivia uma enorme crise devido ao ego inflado de Bloomfield (que nesta época já era considerado um gênio da guitarra) e pelo envolvimento de quase todos seus integrantes com drogas pesadas em especial a heroína. Some-se a isto a baixa vendagem do disco que alcançou apenas a 31ª posição nas paradas de sucesso e a pouca atenção dada por Grossmann ao combo. Goldberg e Bloomfield deixaram o grupo no começo de 1969 e Miles então se torna o único líder do grupo que sob sua liderança lança no mesmo ano “Electric Flag: An American Music Band”, que marca uma maior incursão em direção a Soul Music em detrimento da experimentação e da efusão de ritmos do álbum anterior.

Ao ser reeditado em CD “A Long Time Comin’” trazia como bônus as faixas “Sunny”, “Mystery” ambas do disco de 1969, além de “Look Into My Eyes”, um Soul de refrão cativante e com uma introdução magistral ao piano e “Going Slow Down” (de James Oden) um blues arrasa quarteirão com um Bloomfield afiado em seu instrumento.

Uma tentativa de volta ocorreria em 1974 com a reunião dos membros originais e o lançamento do bom “The Band Kept Playing” que mostrava um grupo com boas composições (entre as quais a excepcional faixa titulo), mas já sem forças ou mesmo coração no que faziam. Era o derradeiro adeus, pois com a morte de Mike Bloomfield em 1981 qualquer volta ficaria sem sentido.

Em 1983 foi editado Groovin' Is Easy, um disco póstumo, que teve vários nomes em outras reedições, trazendo outtakes de 1974 e performances ao vivo de 1968: I Found Out (2000), The Electric Flag: Live (2000), I Found Out (2000), Funk Grooves (Classic World Productions, 2002), I Found Out (Dressed To Kill, 2005) e I Should Have Left Her (Music Avenue, 2007).

Apesar de pouco lembrada hoje The Electric Flag foi uma das mais legais banda de rock nos anos 60 e merece uma maior atenção por parte de apreciadores de boa música. Garantia de momentos prazerosos.

Fonte: Whiplash

1968 | A LONG TIME COMIN'

01 | Killing Floor
02 | Groovin’ Is Easy
03 | Over-Lovin’ You
04 | She Should Have Just
05 | Wine
06 | Texas
07 | Sittin’ In Circles
08 | You Don’t Realize
09 | Another Country
10 | Easy Rider
11 | Sunny
12 | Mystery
13 | Look Into My Eyes
14 | Going Slow Down

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