Hoje (ontem) se completam 50 anos da morte de Heitor Villa-Lobos. Maestro e compositor, foi um gênio que ao longo de 72 anos imprimiu uma nova linguagem à música brasileira, ao incorporar elementos das canções folclóricas, populares e indígenas, com combinações inusitadas de instrumentos e imitação do canto de pássaros.
Villa-Lobos é um dos poucos compositores que conseguiu derrubar as barreiras entre o popular e o erudito ao fazer com que os dois gêneros conversassem entre si. Difícil? Não para ele, que percorreu o Brasil recolhendo toda a riqueza de sons ao desbravar florestas e sertões.
– É admirável o poder de absorção, catalização e síntese em Villa-Lobos. Dizem que muitas vezes compunha com o rádio ligado... Ele faz questão que o mundo que o circunda penetre em sua criação. Villa-Lobos foi um orquestrador magistral: impressionam até hoje as sonoridades que ele criou através da orquestra – diz o pianista e pesquisador Alberto Andrés Heller.
O resultado das viagens pelo interior do país foi um repertório com 1,2 mil peças. Para o pianista, a principal contribuição de Villa-Lobos foi a sistemática utilização da música folclórica em suas composições, aliando-a à estética modernista.
Por volta de 1915, a Europa estava na moda e a cultura popular não era valorizada no Brasil. O cenário muda em 1922, com a Semana de Arte Moderna, quando o trabalho de Villa tem grande repercussão junto a intelectuais. O modernismo de caráter nacionalista de Villa-Lobos se deve em grande parte à influência de Mário de Andrade, um dos principais articuladores ideológicos da Semana de 1922.
– Quer-se fugir do Brasil “romantizado” (como em Iracema, de José de Alencar, por exemplo) e ao mesmo tempo abrir-se a um futuro vanguardista e renovador. Trata-se, portanto, de criar uma identidade para o Brasil – comenta Heller.
Heitor Villa-Lobos nasceu no Rio de Janeiro e traz em sua formação toda a sonoridade dos cariocas. A mãe queria que fosse médico, o pai o incentivou para a música. Aos 12 anos, começou a tocar violoncelo em teatros, cafés e bailes. Interessou-se pelo choro e passou a conviver com representativos nomes da música popular. Entre suas composições mais conhecidas estão Trenzinho Caipira e As Bachianas, Uirapurú e choros para piano e orquestra.
O maestro Jeferson Della Rocca considera o compositor como um dos principais do cenário musical erudito, no Brasil e no exterior.
– Conseguiu, assim como Carlos Gomes, receber grande reconhecimento internacional e ter suas músicas na programação da maior parte das orquestras e cameristas de todo o mundo _ diz Jeferson.
Para a maestrina Mércia Ferreira Villa-Lobos tinha uma fertilidade incrível, tanto vocal quanto instrumental.
– Passadas cinco décadas de sua morte, sua música soa de outra forma aos ouvidos da crítica especializada. E a visão de nacionalistas e vanguardistas converge na mesma direção.
JACQUELINE IENSEN
jacqueline.iensen@diario.com.br
Villa-Lobos é um dos poucos compositores que conseguiu derrubar as barreiras entre o popular e o erudito ao fazer com que os dois gêneros conversassem entre si. Difícil? Não para ele, que percorreu o Brasil recolhendo toda a riqueza de sons ao desbravar florestas e sertões.
– É admirável o poder de absorção, catalização e síntese em Villa-Lobos. Dizem que muitas vezes compunha com o rádio ligado... Ele faz questão que o mundo que o circunda penetre em sua criação. Villa-Lobos foi um orquestrador magistral: impressionam até hoje as sonoridades que ele criou através da orquestra – diz o pianista e pesquisador Alberto Andrés Heller.
O resultado das viagens pelo interior do país foi um repertório com 1,2 mil peças. Para o pianista, a principal contribuição de Villa-Lobos foi a sistemática utilização da música folclórica em suas composições, aliando-a à estética modernista.
Por volta de 1915, a Europa estava na moda e a cultura popular não era valorizada no Brasil. O cenário muda em 1922, com a Semana de Arte Moderna, quando o trabalho de Villa tem grande repercussão junto a intelectuais. O modernismo de caráter nacionalista de Villa-Lobos se deve em grande parte à influência de Mário de Andrade, um dos principais articuladores ideológicos da Semana de 1922.
– Quer-se fugir do Brasil “romantizado” (como em Iracema, de José de Alencar, por exemplo) e ao mesmo tempo abrir-se a um futuro vanguardista e renovador. Trata-se, portanto, de criar uma identidade para o Brasil – comenta Heller.
Heitor Villa-Lobos nasceu no Rio de Janeiro e traz em sua formação toda a sonoridade dos cariocas. A mãe queria que fosse médico, o pai o incentivou para a música. Aos 12 anos, começou a tocar violoncelo em teatros, cafés e bailes. Interessou-se pelo choro e passou a conviver com representativos nomes da música popular. Entre suas composições mais conhecidas estão Trenzinho Caipira e As Bachianas, Uirapurú e choros para piano e orquestra.
O maestro Jeferson Della Rocca considera o compositor como um dos principais do cenário musical erudito, no Brasil e no exterior.
– Conseguiu, assim como Carlos Gomes, receber grande reconhecimento internacional e ter suas músicas na programação da maior parte das orquestras e cameristas de todo o mundo _ diz Jeferson.
Para a maestrina Mércia Ferreira Villa-Lobos tinha uma fertilidade incrível, tanto vocal quanto instrumental.
– Passadas cinco décadas de sua morte, sua música soa de outra forma aos ouvidos da crítica especializada. E a visão de nacionalistas e vanguardistas converge na mesma direção.
JACQUELINE IENSEN
jacqueline.iensen@diario.com.br