Texto: Jorge Carlet
Como Morcegos À Luz do Dia
Não é mais segredo para ninguém que o crack emergiu do submundo e está espalhando seus devastadores efeitos sobre todos. Sobre todos ? Sim amigo, quando falamos de crack não estamos tratando apenas sobre os usuários, o que já seria mais do que suficiente para levantarmos nossas bundas da poltrona e fazermos algo a respeito. Quem não conhece alguém que embarcou nessa canoa prá lá de furada e as conseqüências diretas e indiretas disso tudo ? Estou falando de algum amigo, vizinho, conhecido ou mesmo daquele estranho que vemos em estado lamentável sucumbindo às terríveis crises de abstinência. E nessas ocasiões a desesperada busca por mais e mais doses que aplaquem as dores torna a busca pela próxima pedra como objetivo último de uma vida que se esvai quase que irremediavelmente. E de alguém neste estado de sofrimento não podemos exigir o cumprimento de todas aquelas regras que tornam tolerável nossa convivência em sociedade. A conseqüência lógica e imediata é o aumento da criminalidade pois a busca pela grana necessária, na medida em que o vício se aprofunda, vai se sobrepondo aos valores civilizatórios. E neste estágio de dependência o livre arbítrio passa a ser nada além do que uma longínqua abstração.
Pois outro dia conversava a esse respeito com amigos, enquanto bebericava minha horrorosa cerveja sem álcool - já há alguns anos o único contato que tenho com o álcool é quando lavo as mãos com álcool gel 70%. Contei-lhes sobre a grande iniciativa da minha amiga e escritora Jana Lauxen http://www.janalauxen.blogspot.com/ de criar uma rede de blogues a partir deste http://www.todoscontraocrack.blogspot.com/ por ela criado. Objetivo: conscientizar e buscar alternativas para diminuir ou, por quê não, acabar com o flagelo do crack. O argumento da Jana que conquistou minha adesão incondicional foi o de que o crack é um problema de todos, não só por uma questão de humanidade, o que já seria mais do que suficiente, mas também pelas conseqüências que cedo ou tarde baterão à nossa porta. Todos concordaram e elogiaram a iniciativa. Trocamos impressões sobre as notícias que saíram na imprensa a respeito da iniciativa de traficantes de Santa Cruz do Sul/RS, segundo a qual teriam feito um acordo com Associações Comunitárias comprometendo-se a não venderem mais crack a partir de meados de dezembro (na verdade assim que acabassem seus estoques, pois não são tão bonzinhos assim) e, se for preciso, reprimirem quem não cumpra o trato. A partir daí voltariam a vender só o que tradicionalmente vendiam: maconha e cocaína.
Vejam só, até para os traficantes o crack passou a ser problemático; imagine-se para nós cidadãos comuns... Por instantes ficamos pensativos, até que o silêncio foi rompido por um de nossos amigos (que fuma seus baseadinhos) e que saiu-se com uma afirmação que nos surpreendeu : "tá muito mais fácil conseguir crack do que um baseado !" Como assim ?, perguntamos espantados. "É isso aí que vocês ouviram. Conseguir uma droga pesada como o crack é facílimo; mas conseguir uma leve como um baseado tá difícil." E completou: "conheço vários parceiros que passaram a usar crack pois não conseguem mais maconha".
A revelação caiu como uma bomba. Como é que pode uma coisa dessas ? Estaríamos, por uma suposta política míope no que se refere ao trato da drogadição, fazendo gol contra ? As autoridades estão apreendendo maconha demais e, inadvertidamente, abrindo as portas para o crack ? Será que é mais difícil efetuar apreensões de crack ? Será que os traficantes daqui são mais burros do que os de Santa Cruz do Sul ? Será que...? Será que...? Será que... ?".
Diante do non sense da situação ficamos boquiabertos e sem respostas plausíveis. Mas aquela afirmação ficou desfilando pelos meus neurônios...
Bueno, mas o fato é que é absolutamente inequívoco que uma grande parcela de qualquer sociedade do planeta necessita ou gosta de "sair do ar" vez ou outra. E isso vale para qualquer forma utilizada: seja por meio do uso de substâncias psicoativas lícitas ou ilícitas. Trata-se de um fenômeno sociológico largamente comprovado e sobre o qual mais cedo ou mais tarde teremos que erguer o tapete e discutir o tema com maturidade e sem preconceitos, pois não caberá mais embaixo dele. E aí meus queridos, a questão terá que ser enfrentada pois os métodos repressivos adotados até agora tem se revelado um fracasso absoluto onde quer que tenham sido adotados. E talvez esteja chegando a hora de enfrentarmos o problema e, quem sabe, transferirmos a questão da da esfera da Segurança para a da Saúde Pública.
Vejam bem: cada vez que agimos por medo tendemos a acreditar que qualquer problema só pode ser resolvido através da repressão. E nessas ocasiões sempre achamos que a punição é o melhor remédio. Então pedimos leis mais "duras" para isto ou para aquilo; e vamos abarrotando os presídios de gente que talvez não precisassem estar lá, na escola do crime. Pois eu acho que punição nem sempre é a solução. E no caso da drogadição, há muito venho amadurecendo o ponto de vista de que estamos caminhando na contramão. Mas esta é uma opinião provisória que, dependendo de argumentos racionais pode ser modificada. Por ora, os fatos e dados estatísticos só a reforçam.
Mal comparando, quando as DST´s, em especial o HIV, passaram a assombrar a humanidade, deixamos de fazer sexo ? Claro que não, felizmente. Simplesmente foram adotadas medidas alternativas e preventivas e a festa continuou. Agora tem uma coisa, com o crack não há festa, e isto tem que ficar claro. Mas, como falei no parágrafo anterior, em todos os lugares há uma "festa" nos subterrâneos das cidades, que talvez fossem menos perigosas para todos se fossem regradas com maturidade e reponsabilidade - vários são os exemplos positivos mundo afora. Entretanto, preferimos enfiar nossas cabeças num buraco como fazem as avestruzes, pensando estar resolvendo o problema com a criminalização. Assim, cortamos a luz pensando acabar com a festa. Mas ela continua, mesmo no escuro. E agora, pela incrível contradição descrita por nosso amigo, parece que trancamos a porta por fora e estamos deixando apenas um vírus letal como alternativa. Muito inteligente...
De qualquer forma, independentemente do que você pensa, considere que nossos pontos de vista individuais só tendem a enriquecer quando em contato com outros. Então fica o convite: se você tem um blog, passa lá em http://www.todoscontraocrack.blogspot.com/ , pegue o selo da campanha e poste no seu blog, orkut ou seja lá o que for. E divulgue, discuta; converse com seus amigos, colegas e conhecidos.
Lembre-se do que dizia o grande Chico Sciense: "Um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar!"
Nenhum comentário:
Postar um comentário