sábado, 13 de outubro de 2018

Peter Tosh


Peter Tosh é uma figura icônica que vai além da música: além de gravar alguns dos discos mais importantes de reggae, era incontrolável. Era mais ou menos isso que Chris Blackwell, empresário da Island Records que alçou a carreira solo de Bob Marley, achava de Tosh quando recusou-se a gravar um disco solo do ex-membro do The Wailers. Tosh ficou puto, rompeu com o Wailers e entrou em discussão diversas vezes com seu parceiro Bob.

Então, Peter conseguiu um contrato com a CBS e gravou Legalize It em 1976, quase um disco-manifesto que refletia sua indignação com os rumos da Jamaica nas mãos dos republicanos, ao mesmo tempo em que mostrava sua postura decidida em relação à marijuana. A própria faixa-título, que viria a se tornar sua música mais conhecida, é um hino regueiro geralmente entoado por junkies que adoram procurar motivos para enaltecer o uso da maconha.

Peter Tosh já apanhou da polícia, sofreu com a repressão do governo jamaicano, foi rejeitado. E também ajudou a construir a discografia básica do reggae junto a Bob Marley e Bunny Wailer em discos como Burnin’ e Catch a Fire. Mas o disco mais maduro e talvez mais beligerante de todo o universo reggae veio em 1977, com o lançamento de Equal Rights.

‘Se quiser viver/É melhor me tratar bem‘, avisa Peter Tosh em “Stepping Razor” (escrita por Joe Higgs), que diz passar como uma navalha por cima daqueles que duvidam de sua crueldade. Ele poderia estar atuando, mas a canção soa como uma versão sincera de sua visão de mundo. Entre as inúmeras características que poderiam denominá-lo de revolucionário, a principal delas é que ele era muito combativo. E a música era a sua principal arma.

Equal Rights também é um disco muito idiossincrático. O maior exemplo disso é a canção “I Am That I Am”, um rocksteady mais íntimo levado pelo teclado quase melancólico de Earl Lindo e backing vocals de Bunny Wailer. Na canção, ele diz que não veio ao mundo para surpreender alguém e nem espera o mesmo de qualquer outro.

Neste disco, Tosh também fez questão de cravar a sua versão para “Get Up, Stand Up” – que ganha uma intensidade maior tratando-se de Peter Tosh, já que ele era bem mais agitador que Bob. Esta canção abre o disco com um solo rhytm’n blues cativante de Al Anderson. O vocal não é tão marcante quanto a versão de Bob Marley, mas esta canção tem uma relação empírica incontestável com a biografia do cantor que nunca ‘desistiu da luta‘.

De todas as músicas do disco, as duas em que mais percebemos sua maturidade como compositor são “Downpressor Man” e “Apartheid”. A primeira tem uma bela profusão instrumental e soa quase como uma ironia do destino quando se relaciona com sua morte, em 1987. A canção fala da impossibilidade de se esconder de seus atos; Tosh nunca fez isso, mas foi assassinado em sua casa por bandidos com quem mantinha contato. Não quis se esconder, nem fugir. Tiraram-lhe a vida, mas a honra ficou intacta.

Já “Apartheid” soa como um prelúdio para Bob Marley gravar o disco Survival dois anos depois. A canção fala de resistência, mas sempre evocando o ouvinte a não ficar passivo. Todas as músicas de Peter Tosh causam alguma reação no ouvinte, e “Apartheid” é um de seus melhores exemplos. “Você conquistou suas forças/Através de poderes coloniais/Pegando meus diamantes/Abastecendo mísseis balísticos”.

Texto | Tiago Ferreira

1977 | EQUAL RIGHTS

01. Get Up, Stand Up
02. Downpressor Man
03. I Am That I Am
04. Stepping Razor
05. Equal Rights
06. African
07. Jah Guide
08. Apartheid


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