Durante o início dos anos 1980, Tom Waits foi abandonando aos poucos seu estilo piano jazz com baladas do início de carreira para algo experimental e completamente fora de mão das rádios pop, principalmente pelo uso de instrumentos variados para fazer os mais tipos de combinação dentro de uma letra. Poucos músicos famosos deram uma guinada dão drástica na carreira como ele.
A vida de Waits começou a mudar em Swordfishtrombones, de 1983, um de seus grandes trabalhos. Ao deixar a gravadora Asylum e ir para Island, o experimentalismo só aumentou. O auge desse novo direcionamento foi Rain Dogs, colocado no mercado dois anos depois, um disco experimental sobre a cidade de Nova York.
Já que era um LP sobre uma cidade, nada melhor do que escrevê-lo enquanto passeia por ela, certo? Foi o que ele fez por dois meses, período em que virou Manhattan de ponta cabeça para tentar desvendar as nuances e ver algo despercebido por outras pessoas na cidade. Nesses passeios, ele também gravou sons da cidade para serem inseridos nas canções. A intenção era clara: um trabalho nada convencional sobre uma das metrópoles mais conhecidas do mundo.
O trabalho em estúdio espantou todos que estavam o acompanhando pela primeira vez. Waits não se contentava em encontrar soluções simples para os problemas. Por exemplo, para fazer um determinado tipo de barulho, ele ia por caminhos nada convencionais, enquanto o engenheiro de som dizia “desse jeito [fazendo o som] é mais fácil, não?”. Poderia até ser, mas Waits não é um cara muito convencional. Ele queria conseguir as coisas do seu jeito, no seu tempo.
Outro momento fora da curva era o momento de apresentar as demos aos músicos de estúdio. Nada de levar um gravador com algo feito em casa, ele apresentava as versões no violão na hora e discutia com todos o que deveria ser feito. Tampouco se incomodava se algo dava errado, ele pedia para prosseguir até o fim e preferia ouvir o resultado antes de tecer algum julgamento. A participação especial fica por conta de Keith Richards, dos Rolling Stones, que toca em três canções ("Big Black Mariah", "Union Square" e "Blind Love").
Rain Dogs não é um nome muito convencional para um disco, o próprio cantor explica a escolha: "O cães na chuva perdem o caminho de casa, porque, depois que chove, cada lugar em que ele fez xixi em foi lavado... Eles vão dormir pensando que o mundo é um caminho, e eles acordam e alguém mudou os móveis". A capa mostra um marinheiro muito parecido com Tom Waits sendo consolado por uma prostituta. A foto é simples, mas ganhou o mundo pela disposição das palavras, uma cópia fiel do primeiro disco de Elvis e da estreia do Clash em estúdio, e pela pose dos fotografados.
Lançado em 30 de setembro de 1985, o disco fracassou na parada americana ao chegar apenas na posição 188, mas foi bem na Inglaterra, onde atingiu o top-30. Se o público não entendeu direito o trabalho, a crítica adorou. Recentemente, o álbum foi eleito um dos mais importantes dos anos 1980, momento em que Tom Waits estava cada vez mais experimentando e cada vez mais focado em fazer coisas fora do comum.
Texto | Fagner Morais
1985 | RAIN DOGS
01. Singapore
02. Clap Hands
03. Cemetery Polka
04. Jockey Full of Bourbon
05. Tango Till They’re Sore
06. Big Black Mariah
07. Diamonds & Gold
08. Hang Down Your Head
09. Time
10. Rain Dogs
11. Midtown
12. 9th & Hennepin
13. Gun Street Girl
14. Union Square
15. Blind Love
16. Walking Spanish
17. Downtown Train
18. Bride of Rain Dogs
19. Anywhere I Lay My Head
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01. Singapore
02. Clap Hands
03. Cemetery Polka
04. Jockey Full of Bourbon
05. Tango Till They’re Sore
06. Big Black Mariah
07. Diamonds & Gold
08. Hang Down Your Head
09. Time
10. Rain Dogs
11. Midtown
12. 9th & Hennepin
13. Gun Street Girl
14. Union Square
15. Blind Love
16. Walking Spanish
17. Downtown Train
18. Bride of Rain Dogs
19. Anywhere I Lay My Head
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