sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Black Future


O Black Future foi formado por Satanésio, Tantão – seu núcleo – Lui (que logo deixou a banda), Olmar e Edinho em algum momento dos anos 80 (1984?), no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro. Lançaram apenas um álbum, mas nada mais era preciso; a história já estava escrita, e nunca poderá ser apagada.

Eu sou o Rio saiu em 1988 pela BMG/Plug. Considerado pela crítica especializada como um dos álbuns do ano, com reportagens entusiasmadas no jornal O Globo, na revista Bizz, videoclipe, incensos e mirras, o disco nasceu, cresceu e morreu no submundo sob os Arcos. Era demais para ouvidos acostumados ao rock de Brasília. .

Produzido por Thomas Pappon (Fellini) e com participações de Edgar Scandurra, Edu K (De Falla), Paulo Miklos e Alex Antunes (Akira S e As Garotas que Erraram), Eu sou o Rio é uma ode ao caos urbano e à demência das grandes cidades, longe, muito longe dos corpos sarados e do eterno verão carioca.

À época do lançamento do disco Satanésio disse em entrevista a O Globo que “No fundo, o nosso trabalho é uma trilha sonora para o Rio”. Sim, o Black Future fez a trilha sonora do Rio, do Rio real, não o de cartões postais; expôs as entranhas da cidade não tão maravilhosa, numa época em que a Lapa não aparecia na TV e não era vista com bons olhos pelas ‘pessoas de bem’.

Eu sou o Rio tem dois pilares básicos de sustentação sobre os quais foi construído: primeiro, musicalmente não segue um padrão. É extremamente experimental, explorando terrenos obscuros do pós punk (Bauhaus, PIL, Wire, The Fall, etc) e do industrial (Einstürzende Neubauten, Clock DVA), mas também abraçando o samba (obviamente em “Eu sou o Rio”), o latente hip hop, enfim, um disco sem amarras; segundo, as letras e a forma de cantar de Satanésio.

Em cada uma das faixas do álbum o vocalista e letrista do Black Future destila veneno em forma de palavras. Irônico, com um humor altamente ácido, Satanésio verbaliza (ele não canta, declama, quase como um poeta do spoken word) o ódio pelas instituições (estado, igreja, família), pela caretice vigente, pelo modus operandi da cidade; mas narra também – com toques de realismo fantástico – as experiências surreais das noites cariocas movidas à psicotrópicos.

Dois anos após o lançamento de Eu sou o Rio e seis após seu surgimento, o Black Future saia de cena e deixava um enorme buraco no rock brasileiro. Nunca, antes ou depois, uma banda conseguiu usar o absurdo como força motriz e criar um álbum tão fragmentado (musicalmente) e tão coeso (liricamente) quanto Eu sou o Rio.

Mais que um panorama do que era o submundo da cidade nos anos 80, ele é uma fotografia em preto e branco da realidade carioca não mostrada nas novelas de Manoel Carlos. O Futuro é Negro, e eles já sabiam disso 25 anos atrás.

Texto | Fábio Bridges

1988 | EU SOU O RIO

01. Introdução: Dança da Chuva
02. Interrupção
03. Sinfonia para um Morto
04. Reflexão
05. Piada
06. Eu Sou o Rio
07. Teatro do Horror
08. No Nights
09. Cartas do Absurdo
10. Bem Depois
11. Thor & Loki
12. Eu Quero Tocar a Lapa

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