quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Sting


JAZZ E POP NA MEDIDA CERTA

Tudo começou no final de 1984. Na época, Sting era famoso por ter integrado o The Police, um trio que fez história por misturar pop, rock, reggae e ska, tudo em um mesmo caldeiro sonoro. Com o fim do grupo, o cantor e baixista que também era um prolífico compositor, resolveu se jogar de cabeça em sua carreira solo. O músico tinha em mente uma sonoridade completamente diferente de sua antiga banda. Sting queria algo mais rebuscado, com uma sonoridade mais elaborada e para tanto, viajou em janeiro de 1985 até Nova Iorque a fim de conseguir novos músicos que o acompanhassem em sua empreitada. De inicio, o cantor queria um tecladista realmente bom, que fosse a base do grupo. Um músico que pudesse transitar do pop ao jazz com muita facilidade. Logo lhe indicaram Kenny Kirkland, um pianista e tecladista que havia tocado com jazzistas famosos como Dizzy Gillespie e Elvin Jones. Na bateria foi escalado Omar Hakim, que vinha do fusion, sendo responsável pelas baquetas do grupo Weather Report durante longos anos. Na cabeça de Sting o principal instrumento de solo seria o saxofone, e para comandar o instrumento o cantor convidou Branford Marsalis, jovem saxofonista, que vinha de uma família eminentemente jazzista. Seu pai Elis, era um pianista laureado no circuito de jazz e seu irmão Winton foi diversas vezes apontado como o principal nome da nova geração de trompetistas.

Como Sting resolveu que não tocaria baixo em sua nova banda, recrutou para o instrumento Darryl Jones, Baixista que na época integrava o grupo de Miles Davis. De propósito ou não, o fato é que todos na banda eram negros, eméritos jazzistas e conseguiam transitar por vários estilos com igual desenvoltura. Sting e sua nova trupe viajaram para Barbados, e em sete semanas já havia composto a maioria das canções. Deste modo, em 1º de junho de 1985 chegava às lojas "The Dream of Blue Turtles", o primeiro disco solo do cantor do The Police.

O disco obviamente caiu como uma bomba no meio musical. Sting não tocava seu principal instrumento, o baixo, se limitando uma tímida guitarra base. Além disso, a sonoridade do disco, as letras, os arranjos em nada lembravam sua antiga banda. Tal fato fez muitos fãs antigos torcerem o nariz para o disco, mas em contrapartida, o músico angariou toda uma nova geração de admiradores entusiasmados com seu pop rebuscado e encharcado de jazz.

No geral é um trabalho bem eclético, com faixas mais rápidas e outras mais tranquilas, como se o cantor quisesse ser o Chet Baker do pop. Além de pop e jazz, é notório elementos de música negra, como o soul e o blues, além de algumas poucas influências de seu antigo grupo.

O disco abre com "If You Love Someboy Set Me Free", com seus vocais femininos o fundo, cortesia das fantásticas Dollette Mcdonalds e Janice Pendarvis. Aqui o cantor mostrou um estilo que continuava cheio de swing como fazia com seu antigo grupo, mas mostra também toda sua evolução como compositor e intérprete. O tema fala da escravidão e censura. "Love Is The Seventh Wave" é talvez a única canção que pode lembrar vagamente seu antigo grupo, talvez pela Base levemente reggae ao fundo. "Russians" é uma introspectiva balada onde voz de Sting se sobressai aos arranjos. "Children´s Crusade" tem letra contando a história das crianças que lutavam nas cruzadas. Sting a canta de modo melancólico, e até mesmo o belo sax de Branford consegue soar triste em seu solo. "Shadows In The Rain" é um tema mais rápido, comandado pelo piano elétrico de Kirkland que faz um interessante contraponto com voz de Sting."

"We Work The Black Seam" é uma outra balada composta pelo cantor, que tirou inspiração para o tema em sua infância. "Consider Be Gone", é um canção fantástica, que começa com a voz e o baixo aveludado de Darryl e vai crescendo a medida que o tem se desenvolve. Em seguida temos a faixa titulo que é uma pequena música instrumental. Um verdadeiro tema de jazz, comandado por piano e saxofone. A música foi indicada o Grammy como melhor tema instrumental do ano. Como o próprio Sting declarou mais tarde: "Fiquei embaraçado pela indicação. Aquele tema foi apenas uma brincadeira entre a banda durante um ensaio..." Pode até ser, mas acredito que a brincadeira tenha valido a indicação. "Moon Over Bourbon Street", é a canção preferida de Sting e foi composta após o músico ler "Entrevista com o Vampiro" da autora Anne Rice. A canção tem ares de trilha sonora e uma atmosfera bem cool, comandada pelo baixo fretless de Darryl. "Fortress Around You Heart" encerra o trabalho e é uma das minhas canções preferidas. Um tema que fala eminentemente de amor e relacionamento. É mais uma daquelas canções que começam introspectivas e vão crescendo conforme performance de Sting vai se desenvolvendo.

Embora "The Dream of Blue Turtles" seja um trabalho elaborado por grandes músicos, é também um disco primordialmente feito de canções, onde os arranjos privilegiam as ideias e não o oposto. Das dez canções incluídas no trabalho cinco viraram singles e alcançaram as paradas.

O resultado de crítica e público foi bem superior ao esperado e Sting pôde mostrar o mundo que não precisava de seu antigo grupo pra fazer sucesso.

Uma pena a banda ter gravado somente este disco de estúdio e o ao vivo "Bring On The Night", que saiu logo em seguida, pois o grupo tinha fôlego pra muito mais. De qualquer modo fica um trabalho irrepreensível, elegante e cheio de grandes canções como só um compositor do porte de Sting Sabe fazer.

Texto | Márcio Chagas

1985 | THE DREAM OF THE TURTLES

01. If You Love Somebody Set Them Free
02. Love Is The Seventh Wave
03. Russians
04. Children's Crusade
05. Shadows In The Rain
06. We Work The Black Seam
07. Consider Me Gone
08. The Dream Of The Blue Turtles
09. Moon Over Bourbon Street
10. Fortress Around Your Heart

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1986 | BRING ON THE NIGHT

CD 1
01. Bring On The Night - When The World Is Running Down You Make The Best Of What's Still Around
02. Consider Me Gone
03. Low Life
04. We Work The Black Seam
05. Driven To Tears
06. The Dream Of The Blue Turtles - Demolition Man

CD 2
01. One World (Not Three) - Love is the Seventh Wave
02. Moon over Bourbon Street
03. I Burn for You
04. Another Day
05. Children's Crusade
06. Down So Long
07. Tea in the Sahara

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